domingo, fevereiro 25, 2007

CABOCLO MIRIM - UM LUGAR DIGNO NA HISTÓRIA

Na formação da identidade de um povo, era precioso o conhecimento oral, passado dos mais velhos aos mais jovens, como forma de não se perder o contato com suas origens e manter os antepassados vivos na memória. Dizem ainda que a História da Humanidade sempre foi escrita pelos conquistadores, pelos vitoriosos. Uma regra que não se aplica em tempos de paz, nem pode ser regra para a formação cultural de todos nós, filhos de Fé da nossa querida Umbanda.

Sou apenas um humilde estudioso da religião, mas já aprendi que Umbanda é vida e movimento, é crescimento e evolução, sem dúvida alguma! E na atual fase da nossa religião, é bonito de se ver uma nova geração de filhos trabalhando para elevar a nossa mãe Umbanda a um patamar que sempre mereceu estar. Filhos que olham para frente sem esquecer o passado, lembrando de tudo aquilo que hoje são memórias em nossos corações, mas que continuam mensagens atuais e eternas nas palavras de nossos queridos Guias e Protetores, verdadeiros dirigentes do Movimento Umbandista!

Em 1982 ingressei na Tenda Mirim no Rio de Janeiro, dirigida por aquele senhor de fisionomia austera, mas de um carinho enorme pelos seus filhos de Fé. “Seu” Benjamim Figueiredo já era um senhor idoso, mas quanta energia, quanto domínio tinha aquele Caboclo incorporado em um corpo tão frágil! Caboclo Mirim ainda conduzia com vigor todos os trabalhos, nas Giras e nas sessões de caridade! Claro que aos 15, 16 anos de idade, ainda não podia compreender toda a grandeza do trabalho e da obra daquele ser de Luz, que veio plantar tão linda Escola nestas terras de Santa Cruz. Após o desencarne do Sr. Benjamim, comecei a procurar entender o legado de Mestre Mirim, comparando tudo aquilo que sentia em meu coração, com o que meus guias me traziam e com a narrativa daqueles que ao seu lado estiveram. E muito além de paredes de um templo, pude constatar: Que grande obra deixou o Caboclo Mirim!

Este manifesto não visa defender que a Escola de Mirim seja melhor do que qualquer outra. Acredito que é na diversidade que reside a riqueza da nossa religião, como as mais variadas flores que compõe um só belo jardim!

Sei que em algum momento, na juventude da nossa religião, os ânimos dos dirigentes estiveram exaltados na defesa de suas posições e de seus pontos-de-vista. No passado ainda se imaginava uma Umbanda unificada, centralizada tal qual a Federação Espírita Brasileira no Kardecismo. E sei que grandes abismos foram criados dentre os diversos grupos atuantes na nossa religião. Aliás, pouca coisa mudou nesse sentido...

Mas mesmo assim, os verdadeiros dirigentes da nossa Umbanda, nossos queridos Caboclos e Pretos-Velhos, foram conseguindo trazer sua mensagem, levantando pouco a pouco o véu da ignorância dos Homens, principalmente para todos aqueles de boa-vontade!

Quando se apresentou ao meio umbandista em 1924, é possível que a escola de Caboclo Mirim tenha chocado muita gente. Caboclo Mirim devia mesmo estar muito a frente de seus tempo, já que naqueles dias ainda imperavam rituais muito rústicos tais como matanças de animais, raspagens de cabeça e babalorixás ainda muito afeitos ao Candomblé, e pouco afinados com a verdadeira Umbanda.

Mestre Mirim pôs em prática um ritual mais “limpo”, onde não havia o sincretismo com as imagens católicas, seus médiuns se vestiam de forma sóbria, de uniforme branco e sem aquelas centenas de guias ao pescoço. A hierarquia no terreiro foi dividida em sete graus de iniciação, onde o médium ia ascendendo ao ritmo de seu próprio desenvolvimento espiritual: sem camarinha, “obrigações” ou “recolhimentos”.

Suas Sessões de Caridade sempre foram muito produtivas, pois todos davam sua contribuição para alcançar o bem-estar e a cura de seu semelhante: do encarnado ao desencarnado, do Caboclo ao Exu, todos participavam simultaneamente do atendimento ao público, com discrição e perfeita harmonia. Os atabaques só soavam nas grandiosas Giras mensais, onde dezenas, talvez centenas de médiuns confraternizavam com a espiritualidade, recebendo as bênçãos de seus Guias, na vibração das Sete Linhas da Umbanda!

Penso inclusive que Mestre Mirim preparou o terreno para a corrente espiritual que viria a ser conhecida como “Umbanda Esotérica”. É fato que, já em 1941, no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda, surgiu pela primeira vez a expressão AUM-BANDHÃ, da língua sânscrita, como sendo a origem do vocábulo UMBANDA. Tal tese foi apresentada pelo Primado de Umbanda, fundado pelo Caboclo Mirim, e é até hoje aceita por diversas correntes umbandistas.

Por todo o exposto, pergunto aos meus irmãos umbandistas:

Como é possível esquecer uma Escola tão profícua, tão bela em seus mistérios e na sua simplicidade, como a Escola de Mestre Mirim?

Como uma semente que germinou por toda a nossa nação, que foi, e é a raiz que originou dezenas de grupamentos umbandistas pode ser negada?

Como um líder, que desde de 1924 dirigiu centenas de irmãos de Fé nas dezenas de casas afiliadas e co-irmãs, em torno de Congressos e Organizações, do porte do Primado de Umbanda, pode ser apagado da História da nossa religião?

Não há resposta. Não é possível. Mas está acontecendo, lentamente...

Em tempos de globalização e da democratização da informação, não encontro uma só referência ao trabalho realizado por Benjamim Gonçalves Figueiredo e pelo Caboclo Mirim, nos difíceis anos de consolidação e divulgação da Umbanda. Eu desafio: podem procurar nos relatos da História da Umbanda, em livros dos principais autores umbandistas, nas matérias das revistas ou nos sites das diversas organizações de nossa religião.

Hoje temos Internet, rádio, revistas e livros que levam às novas gerações o que é e o que esperamos da nossa religião. Na História da Umbanda, todos citam, merecidamente, o respeitado Sr. Zélio Fernandino de Moraes e o grande Caboclo das Sete Encruzilhadas, um dos pilares de nossa fé. Mas como num lapso de tempo, há um salto até meados de 1950, com a divulgação da obra do nobre W.W. da Matta e Silva, como se nada houvesse ocorrido em 50 anos de Umbanda!

Seria por que, a exemplo do Sr. Zélio, o Sr. Benjamim não foi um grande autor literário? Mas a obra dos Caboclos das Sete Encruzilhadas e Mirim fala por si!

Será que não tem valor aqueles obreiros que não tiveram sucessores à altura, ou um bem elaborado trabalho de divulgação na mídia?

Meu objetivo não é competição, nem julgamento do mérito da obra de todos os incansáveis guerreiros da nossa religião. Só peço o digno e merecido espaço a um dos mais importantes baluartes da Umbanda: nosso querido Caboclo Mirim. Será sempre com a lembrança de tão preciosos valores, e com o aprofundamento em nossas raízes que construiremos uma religião livre de aventureiros e aproveitadores.

Clamo a todos, que sentiram em suas vidas a luz de Mestre Mirim, que façam valer suas vozes. Sei que muitas Casas tem em suas origens a influência benéfica desse espírito missionário, que ainda hoje auxilia e coordena os rumos da Umbanda.

É mister que os formadores de opinião do meio umbandista se aprofundem mais nas pesquisas. Os fatos acima narrados são História, estão aí. Sejamos honestos e acima de tudo, justos. Vamos levar aos mais jovens a verdade, estimulando os livres-pensadores e a fé racional, com isenção e humildade.

Como já disse, sou apenas um pequeno aprendiz e pouco posso fazer para levar à publico essa questão, mas espero que tenha podido dar minha pequena contribuição à memória de nossa Umbanda!

Saravá Umbanda!!
Saravá Caboclo Mirim!!
Saravá todos meus irmãos de fé!!

AUTORIA: Sergio Navarro Teixeira - Presidente da Fraternidade Umbandista Luz de Aruanda / Barra Mansa – RJ

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Aniversários e Datas Comemorativas - Março


01 – 442º aniversário de fundação da cidade do Rio de Janeiro por Estácio de Sá

02 – Aniversário da CCT Hercília

11 – Aniversário da Fátima

12 – 87º ANIVERSÁRIO DA PRIMEIRA INCORPORAÇÃO DO CABOCLO MIRIM NO MÉDIUM BENJAMIM GONÇALVES FIGUEIREDO. Aniversário da Vanessa.

19 – Dia de São José. Aniversário da Vaine.

20 - Início do ciclo zodiacal de Áries. Equinócio de Outono no Hemisfério Sul.

Calendário do Mês de Março/2007


4as feiras às 19:30h

07, 14, 21 e 28
- Irradiação/Passe/Corrente

5as feiras às 19h

08, 15, 22 e 29
- Reposição Energética

Sábados às 15h

03
– Gira Mensal

10 – Consultas com os Pretos Velhos

17 – Gira Mensal em Inhoaíba

24 – Gira Mensal de abertura do ano litúrgico do Primado de Umbanda - PRESENÇA OBRIGATÓRIA DO CORPO MEDIÚNICO.

31 – Gira do sr. Zé Pilintra, Exus e Pombogiras

sábado, fevereiro 17, 2007

Festejos Judaico-Cristãos e Umbanda

CINZAS – dia que sucede os festejos pagãos do Carnaval, no qual os católicos cristãos são marcados na testa com cinzas, simbolizando a conversão para a vida em Cristo, a reflexão sobre a mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte. O fogo, símbolo do Espírito Santo, também expurga os resquícios pecaminosos da ‘festa da carne’.

QUARESMA – esta tradição advém do Judaísmo. No Livro do Êxodo (terceiro do Antigo Testamento, que forma com a Genesis, Deutoronômio, Levítico e Números o PENTATEUCO ou Torá, a pedra fundamental do Judaísmo), há o relato da odisséia do povo de Israel, fugindo do jugo do faraó rumo à Terra Prometida, guiados por Moisés. Esta passagem, cheia de incertezas, durou 40 anos. Foi relembrada por Jesus quando este retirou-se para o deserto, ficando lá por 40 dias. Um ato de abnegação que tinha objetivo de provar aos israelitas que ele fazia parte daquele povo, sofria com ele e era o Messias que estes aguardavam, para cumprir as leis e apresentar-lhes o Deus de Amor e Misericórdia no lugar da figura punitiva e implacável. O jejum e outras penitências remetiam às dificuldades da viagem de seus ancestrais. Este preceito, inspirado no ato de Jesus, foi imposto pela Igreja Católica e tem várias restrições, dentre as quais a proibição de se comer carne vermelha, em respeito ao corpo do Cristo. Neste período, os santos nas igrejas ficavam cobertos com panos roxos, em sinal de respeito à dor de Maria por seu filho.

RAMOS – chegada de Jesus à Jerusalém para comemorar a Páscoa Judaica. O povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”. E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém, despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte.

SANTA CEIA – confraternização entre Jesus e seus apóstolos, exortando-os a continuarem propagando sua obra. É de onde surgiu o sacramento da Eucaristia praticado pela Igreja Católica Apostólica Romana. "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20)

6ª FEIRA DA PAIXÃO – ‘De novo bradou Jesus com grande voz, e entregou o espírito. E eis que o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados; e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. Ora, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o terremoto e as coisas que aconteciam, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era filho de Deus.’ – (Mateus 27, 50-54)

ALELUIA – dia de Nossa Senhora das Dores, em sofrimento pela paixão do Cristo. Os populares ‘malham’ o Judas.

PÁSCOA – A Páscoa Judaica, ou Pessach, celebra a chegada à Canaã, a Terra Prometida. É o início de uma nova vida, em liberdade. A Páscoa Cristã também é um recomeço, quando Jesus ‘ressuscita’, em toda a sua glória, para a vida plena, liberta dos grilhões do invólucro terreno.

UMBANDA - Em muitos terreiros de Umbanda, as casas param suas atividades ou restringem os trabalhos apenas aos pretos velhos e exus, considerando que Orixás se recolhem na Aruanda e caboclos no Juremá para velarem por nós, num período considerado ‘conturbado e tomado de energias negativas’. Tudo isso por conta da autoridade dogmática da Igreja Católica que atravessa os séculos e que ainda prevalece nos dias atuais dentro da Umbanda por equívoco ou desconhecimento dos pais e mães de santo.

A 6ª feira da Paixão é vista por muitos como um ‘dia de queimação’ por conta da crença de que as trevas sobrepujam a luz (de acordo com a passagem Evangelho de Mateus supracitada), tornando-nos vulneráveis. Mais uma vez o sincretismo influencia negativamente, porque os médiuns tendem a cultuar sentimentos pesarosos, tal como os católicos, baixando assim seu campo vibratório e tornando-se suscetíveis. Nas tendas de Umbanda, os médiuns ficam recolhidos em vigília, passam pelo ritual do amaci e cruzamento com pemba (ou cura) para o fortalecimento do ori e fechamento do corpo, respectivamente. Faz-se também uma mesa branca para Oxalá com canjica, acaçá etc. Distribui-se pão e vinho (e as respectivas matérias-primas, a uva e o trigo, símbolos de fartura, abundância e riqueza desde a Antiguidade) em memória da Última Ceia. O sincretismo reforçou o dia de culto a Oxalá na 6ª feira. Há tendas onde no sábado de Aleluia festeja-se ‘a volta dos caboclos e dos Orixás’. Nas casas mais ‘africanizadas’, utilizam-se a partir da 4ª feira de Cinzas as amarras anti-egum (ou contra-egum), trançados de palha da costa atados aos braços, tornozelos e cintura (umbigueiras) com a função de afastar os espíritos baixos.

CONCLUSÃO: A origem de tais celebrações provém da tradição judaico-cristã. Mesmo que a Umbanda acomode conceitos de várias religiões, não há porque permanecer cultuando estas datas forçando-lhes conotações dolorosas. É nosso dever propagar a mensagem de amor, fé, caridade trazida pelo Cristo e não nos martirizar pela suposta responsabilidade do sofrimento que lhe imputamos. Nossos hábitos, atitudes e pensamentos formam uma egrégora que vibra de acordo com nossas tendências - positivas ou negativas. As entidades de luz não se afastam de nós a seu bel-prazer, nós é que não fazemos bom uso do livre arbítrio e agimos à margem das boas orientações. Os guias são a nossa consciência. Quando ignoramos seus alertas, ficamos a cargo das conseqüências de nossos atos estúpidos. Ao rogarmos por ajuda, lá estão eles com a mão estendida a nos oferecer apoio e consolo. Deixemos os terreiros abertos para receber os necessitados de um passe, uma orientação - aqueles que estão doentes da alma.

Autora: MÁRCIA MONTENEGRO

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

AVISO IMPORTANTE - 16.02.2007

O GRUPO UMBANDISTA FÉ ESPERANÇA E CARIDADE POSSUI UM COMPROMISSO COM A VERDADE! Em nossos trabalhos espirituais, realizados todas às quartas-feiras, sempre com início às 19:30h e término previsto até às 22:00h; todas às quintas-feiras, sempre com início as 19:30 e término às 22:00h; e aos sábados, sempre com início às 15:00 e término previsto até às 21:00h - divulgamos a doutrina umbandista através da evangelização, desenvolvimento mediúnico, desobsessões, passes, curas através de tratamentos espirituais e por intermédio de campanhas de caridade. Nossas entidades espirituais trabalham sempre na prática do bem, nunca desviando do compromisso verdadeiro praticado por nossa Casa.

Desaconselhamos àqueles que pensam em procurar nossa Casa para desejar mal ao seu semelhante, visto que possuímos princípios verdadeiros da espiritualidade superior, orientados pelas entidades maiores que são nossos Caboclos e Pretos Velhos. Se o assistido vier em busca de paz espiritual, nossas entidades trabalharam para que, de acordo com o seu merecimento, o mesmo alcance a tão desejada paz. Temos também o compromisso com a nossa consciência, pois sabemos que tudo o que fazemos e plantamos neste planeta, amanhã retornará até nós, pois iremos colher os frutos deste plantio.

As quartas e quintas-feiras, trabalham as entidades Caboclos e Pretos Velhos, sendo estes trabalhos direcionados às correntes de irradiação à distância, visitas espirituais, desobsessões, passes e curas espirituais, todos os trabalhos sendo supervisionados pelas entidades dirigentes do GUFEC, Caboclo Mata Virgem e Pai Francisco. No último sábado de cada mês, somente trabalham as entidades Exus e Pombogiras – nossos Guardiões –, sendo estes trabalhos direcionados para assuntos mais voltados ao plano material (descarrego, emprego, parte financeira, etc). Tudo que fazemos em nossos trabalhos é realizado na frente dos assistidos.

As entidades espirituais do Grupo Umbandista Fé, Esperança e Caridade, não pedem nada em troca do bem realizado, muito menos dão obrigações aos freqüentadores. Tudo é às claras! Não fazemos trabalhos particulares, muito menos atendemos fora do horário de trabalho. Esta é uma casa espiritual séria, limpa e organizada.

LUIZ PAULO SOBRAL NEVES – COMANDANTE CHEFE DE TERREIRO DO GRUPO UMBANDISTA FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Mitologia Greco-Romana e Carnaval

O Carnaval que conhecemos é uma festa bem brasileira, embalada por ritmos africanos. Mas o reinado de Momo foi implantado no Brasil pelos portugueses. E as origens do carnaval europeu estão ligadas às festas populares em honra de dois importantes deuses pagãos: Dioniso ou Baco e Cronos ou Saturno.

Segundo a mitologia, Dioniso era filho de Zeus, o Deus Supremo do panteão grefo, com a mortal Sêmele, princesa de Tebas seduzida por ele. Hera, a esposa de Zeus, enciumada, disfarçou-se em ama da princesa e convenceu-a a implorar que Zeus aparecesse para ela em todo o seu esplendor. Como Zeus tinha prometido satisfazer os desejos de Sêmele, mesmo advertindo sua amante dos perigos que poderiam acontecer, apresentou-se na sua forma divina: raios e trovões. O palácio da princesa incendiou-se, e Sêmele consumiu-se em chamas. Zeus, percebendo que ela estava grávida, transferiu o pequeno feto para a sua própria coxa para completar a gestação. Quando ele nasceu, batizou-o Dioniso: aquele que nasce duas vezes.

Para protegê-lo da raiva de sua esposa Hera, Zeus mandou-o ao Oriente para ser criado pelas ninfas e os sátiros. Lá, vivendo em uma gruta, Dioniso passou uma infância e adolescência felizes. Num belo dia, espremendo algumas uvas, Dioniso inventou o vinho, precioso néctar que passou a repartir com sua côrte. A bebida trazia euforia, provocando um frenesi que fazia que todos dançassem ao som de flautas e címbalos. O delírio era uma conseqüência natural.

De volta ao continente europeu, Dioniso levou a cultura do vinho, mas tornou-se um Deus temperamental e muito exigente. Em troca do vinho pedia rituais dramáticos de bodes e muita festa com dança e música. O jovem Deus era extremamente feminino, possuindo longos cabelos e grande poder de sedução. Quando chegava às cidades, enlouquecia as mulheres através do vinho. Os maridos dessas senhoras, é claro, entravam em desespero. Não é difícil de entender porque suas festas fizeram surgir tanto a Tragédia quanto a Comédia.

Tragédia deriva de tragos, que é o nome dado ao bode no idioma grego. Durante as festas anuais do vinho novo, nas cidades da Grécia antiga, alguns participantes se disfarçavam de sátiros, ou seja, metade homem, metade bode. Por isso tragédia significa ‘canto ao bode’. O bode é reconhecido como símbolo de coisas diabólicas e, num certo sentido, o carnaval de hoje é a própria festa do bode. Pois nesses três dias as pessoas usam e abusam dos prazeres carnais.

Homenageando ao deus Dioniso todos cantavam, dançavam e bebiam até cair. Segundo o filósofo Aristóteles, os elementos do ritual dionisíaco eram capazes de levar uma pessoa ao mais extremo entusiasmo. A ponto dela deixar de ser ela mesma e, numa espécie de transe, acreditar que havia se transformado no próprio Dioniso. Depois de ultrapassar esse limite entre o humano e o divino, de acordo com a moral grega, a pessoa precisaria expiar a grave falta cometida. E é por essa razão que os heróis trágicos são duramente punidos ao final de sua trajetória.

A Comédia, por sua vez, do termo grego kosmos, que entre muitos significados quer dizer: canto de um grupo, cordão ou bloco de foliões. O sábio Aristóteles observou em sua Poética, que a comédia nascera da improvisação ‘por parte daqueles que entoavam os cantos fálicos’. Esses cantos acompanhavam as Falafórias, procissões em que o povo carregava a escultura de um grande falo ereto, símbolo da fecundidade. Esse desfile jocoso, muitas vezes composto por mascarados, era parte oficial das Dionisias Urbanas, dedicadas ao deus do vinho. Em muitas aldeias e cidades gregas era comum que jovens batessem de porta em porta, pedindo donativos e aproveitando para provocar os transeuntes. Freqüentemente carregavam bichos nas mãos: peixes, corvos, andorinhas... ou disfarçavam-se em animais imitando antigos rituais zoomórficos, em que os fiéis se assimilavam ao deus que celebravam.

Mais tarde, a Grécia foi dominada pelo Império Romano, mas seus deuses sobreviveram à dominação, com nomes diferentes. Assim, Dioniso passou a chamar-se Baco e para ele os romanos faziam grandes festas. Eram orgias regadas com muito vinho, as famosas Bacanais do Império Romano, que ocorriam no mês de fevereiro. Cronos, o deus grego do tempo, passou a chamar-se Saturno. Em sua honra havia três dias de festas ininterruptas, com grandes desfiles de carros alegóricos enfeitados, que eram chamados de carnevales.

As histórias míticas de Saturno contam que ele devorava os filhos homens que nasciam, cumprindo uma promessa que o levou ao trono. Mas Réia, sua mulher, conseguiu salvar os filhos Júpiter, Netuno e Plutão, dando ao marido pedras para engolir no lugar das crianças. Destronado e expulso do céu pelo filho Júpiter, Saturno exilou-se na Itália. Lá, ele foi bem recebido pela deusa Juno, com quem passou a dividir o trono. A partir desse momento, dedicou-se a civilizar os povos bárbaros que viviam naquele lugar. Deu-lhes leis e ensinou-os a cultivar a terra. Governou com tanta justiça que seu reino era chamado de Idade do Ouro. Saturno era simbolizado por um velho com uma foice, numa alusão clara à ação implacável do tempo.

As Saturnais, ou Saturnália, eram festas romanas em sua homenagem. Durante essas comemorações reinava a mais absoluta liberdade. Os escravos eram servidos por seus senhores e podiam dizer-lhes o que quisessem, não havia aulas, nem julgamentos ou execução de criminosos. Havia troca de presentes e suntuosos banquetes. O mês de dezembro era época de alegria universal. A inversão dos papéis parece ser a tônica das festas desse Deus que, ironicamente, é o fundador da ordem social. A fartura de alimentos, presentes e outros bens materiais representam o prêmio para aqueles que trabalham duro o ano inteiro, regando a terra com o suor do próprio rosto para merecer seus frutos.

Tanto os Bacanais quanto as Saturnais, que miticamente inspiraram o Carnaval, ocorriam no período que coincide com o Equinócio de Primavera do Hemisfério Norte, em março. As Saturnais ocorriam em todas as ‘viradas de estação’, ou seja, nos Solstícios de Inverno e Verão e Equinócios de Outono e Primavera.

As Lupercais eram as festas em honra de Pã, deus dos pastores, representado com orelhas, chifres e pernas de bode e associado com os bodes e os cães. Trazia sempre consigo uma flauta. Divertia-se assustando as pessoas no campo – daí derivando a palavra ‘pânico’. Ele era lembrado também pela loba que amamentou Rômulo e Remo (figuras míticas da fundação de Roma). Assim, no festival que lhe dedicavam, era costume sacrificar duas cabras e um cão de cujas peles faziam-se chicotes, quando muitos rapazes, nus até a cintura, corriam as ruas de Roma brandindo os chicotes e batendo em todos quanto encontrassem. Daí se originou a tradição dos ‘clóvis’, popularmente conhecidos como ‘bate-bolas’.

Momo e Como são duas outras divindades ligadas ao Carnaval europeu. O primeiro, filho da Noite e do Sono, não fazia absolutamente nada. A única função de Momo era xeretar o trabalho dos outros deuses e os dar palpites que bem entendesse. Ele é o deus da Crítica e da Zombaria. O deus Como rege a alegria e a boa vida. No Brasil, a figura do Rei Momo misturou os deuses Como e Momo num único personagem.

(FONTE: Revista Ano Zero – Fevereiro/1992)

NOTA: Historicamente, o Carnaval é apenas um dia, ou seja, na terça-feira que antecede o Quarta Feira de Cinzas. Por conta dos exageros cometidos em tal festejo que surgiu a denominação ‘Terça Gorda’ (Mardi Gras).

NOTA: Nos dias que antecedem o Carnaval, os Umbandistas fazem firmezas de Exus e Pombogiras para a proteção dos médiuns. Neste período, as pessoas expõem tendências de cunho negativo, os desejos mais ocultos, desrespeitando-se moralmente para satisfazer prazeres carnais sem limites. Através do alcoolismo, consumos de drogas e libertinagem. O campo vibratório destas pessoas torna-se propício à atuação dos kiumbas (obsessores: trevosos, zombeteiros etc). Os guardiões têm por função não permitir que essas energias ‘invadam’ o espaço daqueles que não coadunam com tais comportamentos. Não é proibido aos médiuns de brincar o Carnaval, mas é obrigatório que tenham responsabilidade consigo mesmos.

GOZO DOS BENS TERRENOS

711. O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?

“Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”

712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?

“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

a) — Qual o objetivo dessa tentação?

“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.”

Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença houvera talvez comprometido a harmonia do Universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação, que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo.

713. Traçou a Natureza limites aos gozos?

“Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

714. Que se deve pensar do homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos?

“Pobre criatura! Mais digna é de lástima que de inveja, pois bem perto está da morte!”

a) — Perto da morte física, ou da morte moral?

“De ambas.”

O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, as enfermidades e, ainda, a morte, que resultam do abuso, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.

(FONTE: KARDEC, Allan – “O Livro dos Espíritos” – Parte Terceira, Capítulo V)