quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Mitologia Greco-Romana e Carnaval

O Carnaval que conhecemos é uma festa bem brasileira, embalada por ritmos africanos. Mas o reinado de Momo foi implantado no Brasil pelos portugueses. E as origens do carnaval europeu estão ligadas às festas populares em honra de dois importantes deuses pagãos: Dioniso ou Baco e Cronos ou Saturno.

Segundo a mitologia, Dioniso era filho de Zeus, o Deus Supremo do panteão grefo, com a mortal Sêmele, princesa de Tebas seduzida por ele. Hera, a esposa de Zeus, enciumada, disfarçou-se em ama da princesa e convenceu-a a implorar que Zeus aparecesse para ela em todo o seu esplendor. Como Zeus tinha prometido satisfazer os desejos de Sêmele, mesmo advertindo sua amante dos perigos que poderiam acontecer, apresentou-se na sua forma divina: raios e trovões. O palácio da princesa incendiou-se, e Sêmele consumiu-se em chamas. Zeus, percebendo que ela estava grávida, transferiu o pequeno feto para a sua própria coxa para completar a gestação. Quando ele nasceu, batizou-o Dioniso: aquele que nasce duas vezes.

Para protegê-lo da raiva de sua esposa Hera, Zeus mandou-o ao Oriente para ser criado pelas ninfas e os sátiros. Lá, vivendo em uma gruta, Dioniso passou uma infância e adolescência felizes. Num belo dia, espremendo algumas uvas, Dioniso inventou o vinho, precioso néctar que passou a repartir com sua côrte. A bebida trazia euforia, provocando um frenesi que fazia que todos dançassem ao som de flautas e címbalos. O delírio era uma conseqüência natural.

De volta ao continente europeu, Dioniso levou a cultura do vinho, mas tornou-se um Deus temperamental e muito exigente. Em troca do vinho pedia rituais dramáticos de bodes e muita festa com dança e música. O jovem Deus era extremamente feminino, possuindo longos cabelos e grande poder de sedução. Quando chegava às cidades, enlouquecia as mulheres através do vinho. Os maridos dessas senhoras, é claro, entravam em desespero. Não é difícil de entender porque suas festas fizeram surgir tanto a Tragédia quanto a Comédia.

Tragédia deriva de tragos, que é o nome dado ao bode no idioma grego. Durante as festas anuais do vinho novo, nas cidades da Grécia antiga, alguns participantes se disfarçavam de sátiros, ou seja, metade homem, metade bode. Por isso tragédia significa ‘canto ao bode’. O bode é reconhecido como símbolo de coisas diabólicas e, num certo sentido, o carnaval de hoje é a própria festa do bode. Pois nesses três dias as pessoas usam e abusam dos prazeres carnais.

Homenageando ao deus Dioniso todos cantavam, dançavam e bebiam até cair. Segundo o filósofo Aristóteles, os elementos do ritual dionisíaco eram capazes de levar uma pessoa ao mais extremo entusiasmo. A ponto dela deixar de ser ela mesma e, numa espécie de transe, acreditar que havia se transformado no próprio Dioniso. Depois de ultrapassar esse limite entre o humano e o divino, de acordo com a moral grega, a pessoa precisaria expiar a grave falta cometida. E é por essa razão que os heróis trágicos são duramente punidos ao final de sua trajetória.

A Comédia, por sua vez, do termo grego kosmos, que entre muitos significados quer dizer: canto de um grupo, cordão ou bloco de foliões. O sábio Aristóteles observou em sua Poética, que a comédia nascera da improvisação ‘por parte daqueles que entoavam os cantos fálicos’. Esses cantos acompanhavam as Falafórias, procissões em que o povo carregava a escultura de um grande falo ereto, símbolo da fecundidade. Esse desfile jocoso, muitas vezes composto por mascarados, era parte oficial das Dionisias Urbanas, dedicadas ao deus do vinho. Em muitas aldeias e cidades gregas era comum que jovens batessem de porta em porta, pedindo donativos e aproveitando para provocar os transeuntes. Freqüentemente carregavam bichos nas mãos: peixes, corvos, andorinhas... ou disfarçavam-se em animais imitando antigos rituais zoomórficos, em que os fiéis se assimilavam ao deus que celebravam.

Mais tarde, a Grécia foi dominada pelo Império Romano, mas seus deuses sobreviveram à dominação, com nomes diferentes. Assim, Dioniso passou a chamar-se Baco e para ele os romanos faziam grandes festas. Eram orgias regadas com muito vinho, as famosas Bacanais do Império Romano, que ocorriam no mês de fevereiro. Cronos, o deus grego do tempo, passou a chamar-se Saturno. Em sua honra havia três dias de festas ininterruptas, com grandes desfiles de carros alegóricos enfeitados, que eram chamados de carnevales.

As histórias míticas de Saturno contam que ele devorava os filhos homens que nasciam, cumprindo uma promessa que o levou ao trono. Mas Réia, sua mulher, conseguiu salvar os filhos Júpiter, Netuno e Plutão, dando ao marido pedras para engolir no lugar das crianças. Destronado e expulso do céu pelo filho Júpiter, Saturno exilou-se na Itália. Lá, ele foi bem recebido pela deusa Juno, com quem passou a dividir o trono. A partir desse momento, dedicou-se a civilizar os povos bárbaros que viviam naquele lugar. Deu-lhes leis e ensinou-os a cultivar a terra. Governou com tanta justiça que seu reino era chamado de Idade do Ouro. Saturno era simbolizado por um velho com uma foice, numa alusão clara à ação implacável do tempo.

As Saturnais, ou Saturnália, eram festas romanas em sua homenagem. Durante essas comemorações reinava a mais absoluta liberdade. Os escravos eram servidos por seus senhores e podiam dizer-lhes o que quisessem, não havia aulas, nem julgamentos ou execução de criminosos. Havia troca de presentes e suntuosos banquetes. O mês de dezembro era época de alegria universal. A inversão dos papéis parece ser a tônica das festas desse Deus que, ironicamente, é o fundador da ordem social. A fartura de alimentos, presentes e outros bens materiais representam o prêmio para aqueles que trabalham duro o ano inteiro, regando a terra com o suor do próprio rosto para merecer seus frutos.

Tanto os Bacanais quanto as Saturnais, que miticamente inspiraram o Carnaval, ocorriam no período que coincide com o Equinócio de Primavera do Hemisfério Norte, em março. As Saturnais ocorriam em todas as ‘viradas de estação’, ou seja, nos Solstícios de Inverno e Verão e Equinócios de Outono e Primavera.

As Lupercais eram as festas em honra de Pã, deus dos pastores, representado com orelhas, chifres e pernas de bode e associado com os bodes e os cães. Trazia sempre consigo uma flauta. Divertia-se assustando as pessoas no campo – daí derivando a palavra ‘pânico’. Ele era lembrado também pela loba que amamentou Rômulo e Remo (figuras míticas da fundação de Roma). Assim, no festival que lhe dedicavam, era costume sacrificar duas cabras e um cão de cujas peles faziam-se chicotes, quando muitos rapazes, nus até a cintura, corriam as ruas de Roma brandindo os chicotes e batendo em todos quanto encontrassem. Daí se originou a tradição dos ‘clóvis’, popularmente conhecidos como ‘bate-bolas’.

Momo e Como são duas outras divindades ligadas ao Carnaval europeu. O primeiro, filho da Noite e do Sono, não fazia absolutamente nada. A única função de Momo era xeretar o trabalho dos outros deuses e os dar palpites que bem entendesse. Ele é o deus da Crítica e da Zombaria. O deus Como rege a alegria e a boa vida. No Brasil, a figura do Rei Momo misturou os deuses Como e Momo num único personagem.

(FONTE: Revista Ano Zero – Fevereiro/1992)

NOTA: Historicamente, o Carnaval é apenas um dia, ou seja, na terça-feira que antecede o Quarta Feira de Cinzas. Por conta dos exageros cometidos em tal festejo que surgiu a denominação ‘Terça Gorda’ (Mardi Gras).

NOTA: Nos dias que antecedem o Carnaval, os Umbandistas fazem firmezas de Exus e Pombogiras para a proteção dos médiuns. Neste período, as pessoas expõem tendências de cunho negativo, os desejos mais ocultos, desrespeitando-se moralmente para satisfazer prazeres carnais sem limites. Através do alcoolismo, consumos de drogas e libertinagem. O campo vibratório destas pessoas torna-se propício à atuação dos kiumbas (obsessores: trevosos, zombeteiros etc). Os guardiões têm por função não permitir que essas energias ‘invadam’ o espaço daqueles que não coadunam com tais comportamentos. Não é proibido aos médiuns de brincar o Carnaval, mas é obrigatório que tenham responsabilidade consigo mesmos.

GOZO DOS BENS TERRENOS

711. O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens?

“Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.”

712. Com que fim pôs Deus atrativos no gozo dos bens materiais?

“Para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.”

a) — Qual o objetivo dessa tentação?

“Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.”

Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença houvera talvez comprometido a harmonia do Universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação, que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo.

713. Traçou a Natureza limites aos gozos?

“Traçou, para vos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegais à saciedade e vos punis a vós mesmos.”

714. Que se deve pensar do homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos?

“Pobre criatura! Mais digna é de lástima que de inveja, pois bem perto está da morte!”

a) — Perto da morte física, ou da morte moral?

“De ambas.”

O homem, que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo, coloca-se abaixo do bruto, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Abdica da razão que Deus lhe deu por guia e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, as enfermidades e, ainda, a morte, que resultam do abuso, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.

(FONTE: KARDEC, Allan – “O Livro dos Espíritos” – Parte Terceira, Capítulo V)